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Num piscar de olhos, Maria Deolinda Soares viu a sua vida mudar de forma radical. Com apenas 31 anos sofreu um AVC que a deixou numa cadeira de rodas, sem falar e com metade do corpo paralisado. A recuperação foi longa, mas a penafidelense reergueu-se e percebeu que tinha de lutar pelos direitos dos cadeirantes. Foi assim que fundou, com “muita ajuda”, o projeto Inclusão Sobre Rodas Associação.
“Foi uma luta severa, muito difícil. Era muito jovem e não estava nada à espera”, é desta forma que Deolinda Soares recorda a sua vida depois do acidente cerebral. Sempre foi “saudável” e nunca esperava ficar sem falar, andar, comer… “para além disso fiquei com o lado esquerdo paralisado, o que para mim foi um azar porque sou esquerdina”.
Foram precisos exatamente 18 anos, para Maria Deolinda recuperar completamente a fala. “Comecei a assistir a várias palestras sobre deficiência motora, porque sempre gostei de aprender coisas novas. Foi durante uma dessas palestras que decidi: ‘tenho de fazer algo pelas pessoas'”.
Através da Inclusão Sobre Rodas Associação, Maria Deolinda tem lutado diariamente para proporcionar qualidade de vida não só às pessoas que cá andam, mas às futuras gerações. Com esta associação, Deolinda Soares quer “chegar a cada uma das pessoas” e retirá-las do isolamento. “Percebi que nunca tive, durante muitos anos, ninguém que chegasse a minha casa e me dissesse que iam lutar e viver, nunca me aconteceu”, acrescentando que “as pessoas começam a querer viver quando as acompanhamos presencialmente, quando falamos cara a cara”.
Até ao dia em que formalizou a associação, a impulsionadora partilha que foi sempre “apoiada e acompanhada”.
“A partir daquele momento eu passei a ser a filha e ela a mãe”
Para além do incidente que presenciava na sua vida, Maria Deolinda tinha nas mãos uma filha de 11 anos e um marido emigrado, desempenhando o papel “de mãe e pai”, mas a partir daquele dia tudo mudou e, durante largos anos, Elisabete Freitas foi a “mãe” de Deolinda.
Deolinda teve de deixar uma carreira e focar-se apenas na sua recuperação, enquanto Elisabete cuidava de si. “Trocamos completamente de papéis. A Elisabete foi muito importante, mas sofreu muito”, partilha.
Hoje, Elisabete Freitas já é uma mulher adulta e tem como missão ajudar a mãe na associação. De momento, o principal objetivo de toda a direção é “angariar dinheiro para um transporte adaptado para deficientes motores. É para todos nós que estamos nesta luta, os que estão e os que não podem ou não querem estar, para todas estas pessoas que precisam imenso de conviver com outras e não têm como, não têm como sair, não têm como chegar aos outros”.
A missão será “ajudar outras pessoas como nós, no sentido de auto estima, tirá-los de casa. Se for por telefone não adianta, tem de ser cara a cara, falar com eles, para perceberem que não são os únicos e que não estão sozinhos”.
Um dos eventos mais marcantes da associação decorreu na Biblioteca Municipal de Penafiel, onde esteve presente o presidente da câmara, e foi “um sucesso. Falamos sobre a deficiência motora, falamos sobre a sexualidade na deficiência motora e foi maravilhoso, enchemos o espaço e o feedback foi maravilhoso”, conta.
Para ajudar a angariar dinheiro para um transporte adaptado, a Inclusão Sobre Rodas Associação encontra-se a preparar duas caminhadas, que serão divulgadas no Jornal A VERDADE em breve.
Maria Deolinda Soares termina com um apelo à sociedade: “pedia o apoio de todos, que são solidários e que não são solidários, que venham caminhar connosco, por uma causa nobre e por todos nós, costumo dizer, juntos somos mais fortes e é verdade”.
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